Um policial militar que seguia para o trabalho foi preso na tarde de domingo (27) ao matar um mecânico e balear uma criança de nove anos durante uma discussão de trânsito na cidade de Mauá, na Grande São Paulo.
A briga ocorreu na Avenida Barão de Mauá e começou após um acidente envolvendo o carro em que estava o mecânico com a família e a moto do PM Kaio Lopes Raimundo, de 32 anos, que não estava fardado no momento.
No carro, além de Clayton Juliano da Silva, de 38 anos, atingido com um tiro na nuca, estavam a esposa dele, a sogra e o sobrinho pequeno.
Após uma discussão acalorada entre os dois, o PM disparou quatro tiros contra o motorista com o carro ainda em movimento. Um deles atingiu a criança, que estava no banco de trás.
O menino está internado e tem quadro estável de saúde. O policial militar foi preso em flagrante, acusado de homicídio e tentativa de homicídio.
Em depoimento, o PM alegou que se sentiu ameaçado e atirou em legítima defesa. A defesa dele não foi localizada pela reportagem.
Segundo a Polícia Militar, a Corregedoria da corporação foi acionada e o policial permanece à disposição da Justiça, detido no presídio Romão Gomes.
Discussão com o carro em movimento
O boletim de ocorrência a que o Bom Dia SP teve acesso traz o depoimento da esposa do motorista baleado e morto.
Cristiane Maria da Silva contou que o policial estava parado em uma motocicleta azul conversando com o motorista de outro carro.
Clayton buzinou para que eles desobstruíssem a via. Eles deram passagem e, metros adiante, o PM na moto tentou ultrapassar o carro da família e emparedar o veículo.
O mecânico que dirigia o carro, então, gritou e, segundo a mulher, o PM jogou spray de pimenta dentro do carro onde estava a família. A partir daí, ele disparou quatro tiros com o carro ainda em movimento, segundo a mulher narrou na delegacia.
Um dos tiros atingiu a nuca do mecânico, que morreu na hora. O veículo onde estava a família ainda seguiu na contramão e colidiu contra um muro.
Versão do PM preso
Ao ser ouvido pelo delegado, Kaio Lopes Raimundo disse que estava pilotando a moto em direção ao trabalho quando, ao se aproximar de uma lombada, o carro dirigido por Clayton começou a buzinar insistentemente.
Ele disse que deu passagem achando que era algum conhecido e foi ultrapassado de forma “extremamente agressiva”.
Ao tentar se aproximar do carro, foi fechado pelo motorista e a moto acabou atingida pelo veículo. Ao cair, bateu a perna, e a moto ficou presa embaixo do carro, com o pedal preso na porta.
Kaio Lopes narrou ainda que, ao tentar levantar, foi ameaçado de morte pelo motorista. O PM afirmou que atirou em legítima defesa, quando o motorista fez um movimento com a mão, dando a impressão que sacaria uma arma.
Me senti gravemente ameaçado, sem saber se estava sendo vítima de um assalto ou de alguma outra agressão. Não houve discussão prévia ou algo que justificasse tal comportamento. Aquele movimento da mão, enquanto ele me ameaçava de morte, me aterrorizou. Diante da ameaça a minha vida, reagi em legítima defesa. Saquei minha arma e atirei três vezes.
— Kaio Lopes Raimundo, policial militar
O policial negou ainda ter disparado spray de pimenta, argumentando que nem anda com isso.
A polícia não encontrou arma alguma com o mecânico Clayton Juliano, morto no local.
Mortes por policiais
Enquanto o Brasil registrou queda de 3,1% nas Mortes Decorrentes de Intervenção Policial (MDIP), o estado de São Paulo teve crescimento de 61% nas mortes cometidas por policiais em 2024, segundo a 19ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgada na semana passada.
O aumento foi o maior dentre todas as 27 unidades da federação.
Em 2023, 504 pessoas foram mortas por policiais militares e civis em serviço ou de folga. Em 2024, foram 813 vítimas. O número de policiais mortos passou de 29 para 32.
Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o crescimento da letalidade policial em SP é um dos motivos que levaram o estado a registrar aumento no total de mortes violentas intencionais, também na contramão do Brasil, que teve queda de 5,4%. Apenas cinco estados registraram crescimento nas mortes violentas no ano passado.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que “os casos de Morte Decorrente de Intervenção Policial (MDIP) também estão em queda e já apresentaram uma redução de 3,86% nos primeiros cinco meses do ano ante o mesmo período de 2024”.
Acrescentou ainda que “todos os casos dessa natureza são investigados pelas corregedorias das polícias Civil e Militar, com acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário”.
G1
